A comunidade de Pombal, na Paraíba, sofre com a contaminação do rio Piancó. O mau cheiro nas salas de aula da Escola Estadual de Ensino Médio Monsenhor Vicente Freitas levou alunos e professores da instituição a construir um projeto que apontasse soluções para o problema.
A proposta foi tão bem-sucedida que, em dois anos, o número de estudantes que abandonam a escola caiu pela metade. Segundo a supervisora pedagógica da escola, Dalva Dantas Fernandez, a repetência também diminuiu e os alunos comparecem com mais freqüência às aulas: um aumento de cerca de 10%, de 2001 para 2003. Essa experiência conquistou o primeiro lugar do Prêmio Grupo Ciência, promovido pelo Ministério da Educação, em parceria com a Unesco.
Conteúdos - Por meio do projeto, os estudantes conheceram o processo de poluição do rio, suas causas e conseqüências. O projeto envolveu sete disciplinas: biologia, química, matemática, história, geografia, língua portuguesa e artes.
Nas aulas de português, por exemplo, os estudantes trabalharam descrição, coerência, coesão e clareza no desenvolvimento do texto. Nas aulas de história, descobriram a importância do rio Piancó no contexto político, histórico e social de Pombal. Em geografia, estudaram vegetação das margens, desmatamento, relevo, erosão e hidrografia. As questões da água e do esgoto foram temas das aulas de biologia e, em química, a professora falou sobre matérias orgânicas em decomposição e resíduos sólidos. Em matemática, os estudantes exercitaram funções, equações logarítmicas, estatística, sistema de medidas, proporções e porcentagem.
Xadrez interdisciplinar
A idéia surgiu em 1999, quando o Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria, no Distrito Federal, sofria com a falta de professores. Segundo o professor de matemática, Leonardo Junqueira, era necessário descobrir como ocupar o tempo dos alunos.
O xadrez foi a maneira encontrada por ele para trabalhar disciplina e raciocínio lógico, como atividade ludo-pedagógica. Como a escola não tinha dinheiro para comprar as peças, Junqueira resolveu fabricá-las com material reciclável e as disciplinas começaram a se misturar e a fazer mais sentido.
A professora de artes e os alunos construíram as peças a partir de potes de iogurte, frascos de desodorante e vidros de esmalte. Para conscientizá-los da importância da reciclagem, os professores das disciplinas de biologia, geografia e química fizeram um trabalho de educação ambiental. Falaram sobre os perigos da poluição para a saúde e para o meio ambiente.
Os estudantes começaram a se interessar pelo xadrez, e como tinham tempo ocioso fora da escola, devido à falta de opções de lazer na cidade, a direção do centro de ensino ofereceu essas atividades em horários diferentes dos das aulas. Como resultado, os alunos se tornaram mais sociáveis e participativos.
A conquista do segundo lugar no Prêmio Grupo Ciência - categoria nacional - levou a escola a ampliar o projeto. O Centro de Ensino 404 vai adquirir tabuleiros e peças oficiais para os jogadores mais experientes e os alunos vão repassar o conhecimento para outras instituições de ensino.
Emissora de rádio ensina física
A determinação em acabar com a resistência à disciplina de física e despertar o interesse da classe pela matéria levou alguns professores do Liceu do Conjunto Ceará, em Fortaleza, a juntar um pequeno grupo de estudantes do segundo e terceiro ano do ensino médio para desenvolver uma atividade diferente: construir um transmissor experimental de rádio. Os professores Ronaldo Glauber de Oliveira, de física, Hebe Mara Vieira, de matemática, Márcio Lira, de geografia, e Maurício de Oliveira Paula, de língua portuguesa, resolveram elaborar, com a participação dos estudantes, um projeto detalhado para a montagem de uma emissora.
Trabalharam cálculos matemáticos, raio de alcance das ondas sonoras, população que seria atingida e os textos do projeto. A prática deu tão certa que mesmo os alunos que não suportavam estudar física querem, agora, participar de todas as atividades ligadas à disciplina.
Até junho de 2004 o Liceu vai incluir no projeto os estudantes do primeiro ano e direcionar os estudos para aumentar o alcance do transmissor. Numa terceira etapa, com os R$ 30 mil recebidos do Prêmio Grupo Ciência, a escola pretende comprar um equipamento profissional, conseguir a licença de funcionamento e montar uma rádio comunitária.